O governo secular se materializou no Ocidente com o golpe de Estado sangrento e esmagador da Revolução Francesa, deflagrada em 1789, inspirada por pensadores dotados da nulidade moral de um Marques de Sade, o mais durador e influente dos seus propagandistas.
Este banho de sangue anticristão “converteu” a França – coração do cristianismo na Europa por séculos – sob a lâmina assassina das guilhotinas, símbolo terrível de crueldade, morte e injustiça, não só contra o chamado “Antigo Regime”, mas, principalmente, para com suas incontáveis vítimas.
Homens, mulheres e crianças. Adultos, jovens e velhos. Todos se viram destroçados no altar da utopia revolucionária. A primeira das muitas que se seguiriam nos séculos posteriores, sempre perpetradas em nome do progresso: a verdadeira ideologia iluminista, disfarçada sob os pegajosos slogans da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Matou-se, matou-se e matou-se pela promessa um futuro melhor: destruir o passado e arruinar o presente em nome de uma utopia incerta, embalada por ideais vagos de justiça e igualdade social, amor fraterno e outras mentiras, passou a ser o cerne do discurso político ocidental, farsa sustentadora da chamada “Democracia Liberal”.
Progresso a qualquer preço se tornou, de fato, o mantra central desse novo culto ateu, secular e desumanizante, vomitado pela elite europeia iluminista sobre o mundo inteiro.
Não apenas isso, mas aqueles que os poderes de ocasião julgassem ser contrários à marcha inevitável do progresso passaram a ser encarados como inimigos da História, merecedores de ter as cabeças separadas dos pescoços.
Quem se opunha à sabedoria iluminista, ao alvorecer do “novo homem”, deveria se submeter em silêncio às novas ideias ou encarar o extermínio na praça pública (qualquer semelhança com os métodos e os propósitos praticados pela Revolução Cultural maoísta não se verifica como mera coincidência).
O apocalipse de carne e sangue humanos da Revolução Francesa – jamais lançado contra a própria população civil – intensificar-se-ia sob os filhotes imundos do Iluminismo: o liberalismo, o fascismo, o socialismo, o comunismo, o niilismo, a tecnocracia, o internacionalismo, a eugenia, o transumanismo e o globalismo, entre outros delírios gestados pelo caldeirão iluminista.
A agressão revolucionária desaguaria nas guerras napoleônicas. Pelas décadas seguintes, milhões morreriam, enquanto inúmeros se tornariam órfãos, passariam fome, restariam aleijados. Em defesa da modernidade e da utopia.
Para uma maior compreensão do poder sedutor do ideal progressista como o fetiche máximo do Iluminismo, é preciso compreender, inicialmente, o que seus proponentes entendem como “progresso”.
O primeiro indicativo encontra-se na justificativa tácita do iluminista pelo recurso à violência, censura ou ameaça da força estatal para a imposição da sua ideologia contra potenciais dissidentes.
O segundo fator é o seu desprezo pela razão cristã e o logos divino, pois, para o iluminista, o progresso deve emanar, exclusivamente, do papel do homem como o “único e verdadeiro” agente de realização do processo histórico.
De fato, para frutificar, o projeto iluminista precisa exterminar a moralidade cristã, condição indispensável à auto-elevação da humanidade ao protagonismo central da História.
Caso contrário, como submeter nossa espécie falha e mortal a um conjunto de regramentos morais ditados por uma entidade superior, eterna, espiritual, representante única da verdade, do belo e do justo?
O materialismo histórico – seja em que fase conceitual este possa se encontrar – é incapaz de conviver com essa limitação moral e religiosa.
O Iluminismo somente opera se a humanidade aceitar que é a “dona do próprio nariz”, em outras palavras, disposta a assumir valores e regras de conduta próprias, sem contenções advindas da tradição e da moralidade milenar dos nosso ancestrais, tementes a Deus.
Não é à toa que Napoleão Bonaparte, o maior militar e político produzido pela Revolução Francesa, considerava a criação do Código Civil Napoleônico como a obra-prima da sua vida.
Este representava a lógica positivista e revolucionária incorporada em regramentos pelas quais os homens deveriam passar a viver e morrer, suplantando as “arcaicas” Leis de Igreja, preservadas através dos séculos pela doutrina cristã. Contudo, um código civil, para se sobrepor à legitimidade intrínseca da Lei Divina, precisa, preliminarmente, apagar a noção do ser humano como uma criatura amada pelo seu Pai Celestial, forjada à Sua imagem e semelhança, um ser imbuído de uma nobreza que transcende a si mesmo, dotado de uma alma imortal e de uma forma de livre arbítrio que presta contas somente aos Céus.
Nesse momento, o Marquês de Sade se impõe como a figura chave da inflexão cultural trazida pela revolução, não exatamente por suas propostas sexuais bizarras, mas sim, pela difusão da sua concepção do Homem-Máquina.
Para Sade, o ser humano não passava de uma “máquina” biológica montada, aleatoriamente, pela natureza, logo desprovida de alma e da graça divina. Por conseguinte, o livre-arbítrio, conferido à humanidade por Deus, era nada menos do que uma mentira disseminada pelos clérigos.
Assim, Sade justificava a imposição do prazer dos poderosos sobre os vulneráveis, notadamente mulheres e crianças, vistos como meros corpos disponíveis a saciar seus apetites mais profundos.
No limite, o sexo – na cosmovisão cristã, um instrumento sagrado de multiplicação da vida – pervertia-se num ato de pura violência, opressão e morte, permitindo o consumo integral do parceiro, fosse na orgia do assassinato, da necrofilia ou mesmo do canibalismo.
Brotava, assim, em espírito, a mais satânica, profana e maldita máxima progressista: “É proibido proibir”.
Em outras palavras, a humanidade despontava como uma criatura perdida na própria latrina da falta de limites; afastado da moralidade divina.
“Tão Longe de Deus, tão perto do inferno”; alguns diriam.
Assim, a lógica sádica reduziu um ser antes moral e nobre, fruto do amor de Deus, a um mero saco ambulante de carne, sangue e ossos.
Internalizado na visão revolucionária, o arquétipo do Homem-Máquina despiu-se da liberdade oriunda da graça divina irrevogável para se sujeitar às leis dos homens, escritas pelos privilegiados, detentores do poder burocrático, militar, científico, cultural, acadêmico, econômico, social e político: as esferas de influência constituidoras do Estado moderno.
A revolução liberou o homem de Deus para escravizá-lo aos códigos formulados por Napoleão, e tantos outros “iluminados” que se seguiram ao tirano francês.
Solapou-se a moralidade de Deus, fonte clara e objetiva dos valores a serem obedecidos pela humanidade, régua de conduta legitimada por advir de uma sabedoria perfeita, imutável, imóvel, distinta dos defeitos mortais.
Em seu lugar, o homem curvou-se à opressão mundana das regras dos poderosos, inquestionáveis à plebe, insculpidas nas constituições nacionais modernas, a serem seguidas até o momento de essas mesmas elites decidirem alterá-las, ao sabor dos seus interesses momentâneos ou de longo prazo.
Ninguém melhor explicitou a lógica iluminista, tanto na forma de se fazer política nas democracias como nas ditaduras herdeiras da Revolução Francesa, como Lênin, líder da erupção comunista na Rússia.
Seus escritos e sua prática política, demonstram, vividamente, como a moral cristã e suas virtudes morais representam um severo entrave ao exercício do poder pelo pragmatismo amoral extremado das elites seculares.
Lênin se portava como um iluminista cioso – mais do que mero bolchevique (um jacobino armado com a metralhadora em vez da guilhotina) – quando afirmava que tudo – absolutamente tudo – que fosse possível de ser utilizado para avançar a causa revolucionária deveria ser empregado, independente da contradição moral, de coerência ou de correção.
Afinal, o Bem e o Mal são conceitos cristãos, logo desprezados pelo Iluminismo, para o qual somente importa o fim do progresso social.
Nesse contexto, dependendo da conveniência revolucionária, o militante deveria atuar de forma pendular: sua defesa ou ataque de determinado tema se alternava de acordo com a conjuntura política.
Nacionalismo, internacionalismo, soberania, democracia, ditadura, pacifismo, luta armada: nada significavam para o militante revolucionário. Tudo é desprovido de uma verdade intrínseca, restando somente uma retórica amoral a serviço exclusivo da causa.
Essa amoralidade espiritual secular representa a autodestruição da própria consciência, valores, sentimentos e virtudes.
Como um filho do Iluminismo, portanto, intrinsicamente, amoral, ateu, secular, Lênin arruinou a própria alma na fogueira das suas taras revolucionárias.
Entretanto, para um cristão, o Iluminismo jamais representará um autêntico progresso ou justiça, exatamente por priorizar as leis humanas em detrimento da Palavra de Deus.
Ao seguidor de Cristo, a lei justa é a lei derivada do Senhor.
Já a lei humana, por ser a humanidade imperfeita, será sempre falha. Destarte, as chamas da revolução são incompatíveis com a Verdade de Deus.
De fato, o Iluminismo ressoa para o cristão, com clareza assustadora, como um eco sombrio do grito da rebelião original proferido pelos anjos caídos, os quais, ansiando por se tornarem deuses, voltaram-se contra o Criador.
Em verdade, o Iluminismo é o grito do homem em uma ambição, trágica e tristemente, similar aos anseios profanos do Diabo.
Uma ambição inaugurada pelos demônios, agora trilhada pelos progressistas na Terra.
Se o Diabo experimentou o desfecho da própria desgraça ao mergulhar no Mal – a ausência de Deus – não estaria o Inimigo tentando nos arrastar ao mesmo abismo em que ele chafurda, contaminando com sua malícia os espíritos doentes e as mentes distorcidas dos iluministas?
Existe, porém, uma alternativa pior: nossa ruína talvez provenha de nós mesmos, dos nossos próprios corações pecaminosos, afastando-nos, por conta própria, da razão divina, em troca da mentira iluminista, em que o ser humano se reduz a uma visão arrogante e bárbara de si mesmo.
Nesse caso, não nos tornamos deuses, mas sim, demônios.